
Desde que o mundo é mundo escutamos expressões do tipo: “encontrar a cara metade”, “estou buscando a metade da laranja”, “a outra metade”. Será que somos seres incompletos procurando constantemente a outra metade? Acredito que não! Somos seres únicos, completos, singulares. Embora alguns de nós não percebam isso.
A ideia da necessidade de outra metade tem sua origem no mito de Androginia (descrição de algo que não é masculino e nem feminino), de Aristófanes. Ele afirmava que éramos seres redondos, sem sexo definido, com quatro pernas, quatro braços, quatro orelhas, dois rostos e duas genitálias. E que fomos divididos pelos deuses e cada metade ficou condenada ao reencontro com a metade perdida, para novamente sentir-se completa.
O mito se popularizou e ganhou o senso comum. Mas acredito que é um tanto cruel acreditar na busca constante de um ser que nos complete. O amor é uma busca de outro que compartilhe sua história conosco, seus planos, desejos, sua vida.


Mas a palavra de ordem é compartilhar e não completar!
A falta existente, que muitas vezes é revelada pela busca do amor ideal, segundo Freud, é uma busca por nós mesmos. Portanto é preciso preencher a nossa falta como nossos próprios ideias, descobrindo a nossa essência, um encontro consigo mesmo. Quando não conseguimos nos encontrar, tendemos a buscar no outro um pouco de nós, um pouco do “eu” perdido. O que não entendemos é que nessa busca há um desgaste emocional, que nos afeta e consequentemente afeta a pessoa com quem estamos nos relacionando.
Um pessoa completa, feliz consigo e com os outros, é capaz de encontrar o amor, compartilhar sua história com o outro e juntos construírem o enredo que quiserem, sem a pressão de atender uma expectativa inalcançável: a da completude do seu par. Afinal o amor, acima de tudo, é isso: o encontro de um par, a construção de uma parceria na vida, seja ela para sempre, ou não.
Acredito que o mito de Aristófanes tem espaço até hoje, porque reforça na ideia que criamos de “felizes para sempre”. Ao imaginarmos a possibilidade de encontrarmos a metade que nasceu para nos completar, alimentamos a fantasia que seremos felizes sem o esforço da conquista diária, sem o investimento na relação.
Portanto, a proposta é marcar um encontro consigo, descobrir quem você é e o que quer. Começar um relacionamento mais íntimo com o seu “eu”, daí então, se permitir encontrar a parceria que vai compartilhar com você, não o “felizes para sempre”, mas o “felizes, juntos e inteiros, agora”!!
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